quarta-feira, 2 de março de 2011

“Então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para liberar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim”

- Caio Fernando Abreu, em: Os dragões não conhecem o paraíso -

2 comentários:

Mar disse...

Oi, Eluane, boa noite-madrugada!! Tenha doces sonhos.
Esse belo texto me remete a uma história muito interessante em que ambos, moça e rapaz, não sabiam tudo que estava envolvido no relacionamento dos dois, e acabaram se ferindo, desnecessariamente. Há um quê, nele, de impressão de uso mútuo, mas, no fundo, há uma mágoa sublinear. Achei interessante, porque justamente essa mágoa permeia a interpretação da intenção do outro... Mas se o um por cento estiver acontecendo, a injustiça pode ser do tamanho do mundo.
Lindo texto.
Um beijo carinhoso
Lello

Thiago disse...

honestamentes assim!